Há cinco anos descobri que tenho depressão, o vazio do vazio. Tão ordinária. Não escolhe classe social, religião ou cultura. Chega, se instala e fragiliza sem qualquer escrúpulo ou pudor. É o mal do mal. É medíocre, cruel, nos impõem medicações como antidepressivos, idas ao psiquiatra, psicóloga, terapias alternativas. O motivo não era claro. Eu sentia dores na alma, rejeitava a mim mesma; meu coração batia forte, o medo e o total descontrole me impediam de levantar da cama. Minha existência não fazia sentido algum. Eu só pensava em quantos comprimidos ainda seriam necessários tomar para que eu conseguisse por fim àquele sofrimento. Por sorte, bastaram alguns cortes para que eu acordasse daquele transe infeliz e pudesse pedir socorro, antes que algo pior acontecesse. Depressão não é frescura. Não é falta de um alguém. Não é patético ou dramático. Não é falta de Deus e nem de religião. Apenas é. Talvez a sociedade atual, baseada em relações líquidas, onde “ter”; é mais importante que “ser”, tenha uma grande parcela de culpa. O estilo de vida que insistimos em comprar a preços altíssimos, nos lança numa montanha-russa de angústia e ansiedade, que pode levar a sensações prolongadas de tristeza e apreensão. Estamos atolados num tipo de epidemia do desconforto emocional: há mais pessoas deprimidas do que jamais houve. Estamos numa época em que ser feliz é quase uma obrigação; Todo mundo quer ser feliz, bonito, rico, bem sucedido, amado. Escondemos nosso sofrimento, nossas magoas, tristezas, fingimos felicidade 24h. Mas eu pergunto: Que mal há em ter dias ruins? Vale ressaltar, tristeza não é, nem de longe, a mesma coisa que depressão. Durante muito tempo, tratei a minha depressão como algo secreto, vergonhoso. Tinha medo dos julgamentos, do que as pessoas iriam pensar. Talvez por isso, muitos de vocês vão se surpreender ao ler esse relato, pois eu era uma vítima da sociedade, onde todos somos obrigados a ser felizes e, aparentemente, nas redes sociais sempre postamos selfies sorrindo, paisagens bonitas e os momentos mais favoráveis da vida que expressem felicidade. Nós estamos esquecendo de valores como ética, empatia, honra, amor ao próximo. E assim, os consultórios psiquiátricos seguem lotando. Precisamos de mais sensibilidade, olhar atento ao próximo. Tá faltando tanta empatia que a gente tem vergonha de sofrer, ninguém quer admitir suas tristezas, frustrações, o vazio, o choro. Tem dias que me esqueço em cada para não me ferir mais do que eu já me sinto ferida. Vulnerável e aberta eu sempre sou, porque meu coração é feito de carne e por isso eu vivo à sangrar. Apesar dos pesares, acredito na humanidade que pode estar um pouco perdida, assim como eu estou, mas que é guiada por uma energia forte que guia nossos caminhos e nos ajuda a ter dias melhores. O mundo é difícil, manter a saúde mental nessa loucura também é difícil. A dor passa, mas pra isso, é necessário buscar ajuda. Estou exausta, em processo de recuperação, mas não penso em desistir novamente.
Onde procurar ajuda?
Centro de Valorização da Vida – Unidade Brasília
Tel.: (61) 3326-4111 / Horário: 24 horas
SRTVN Quadra 702 – Ed. Brasília Rádio Center – sobreloja 5 – 70719-900
– Movimento Setembro Amarelo, Dia mundial de Prevenção ao Suicídio
– Educação Emocional
– Associação Brasileira de Psiquiatria
– Movimento Conte Comigo, Prevenção a Depressão
– Rede Brasileira de Prevenção ao Suicídio
– Transtornos mentais e dependência química
– Centro Voluntariado de São Paulo
– Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídios
Maria Gabrielli Andrade é estudante de Psicologia e colaboradora da 30ª edição do Jornal Radcal.