O consumo de álcool entre os jovens brasileiros cresce a cada ano, principalmente os que estão em idade escolar. O que leva esses adolescentes a procurarem a diversão em uma substância lícita e socialmente aceita? Essa e outras questões relacionadas a esse tema nortearam nossa conversa com a Assessora Técnica do Projeto Redes – Articulação Intersetorial de Políticas sobre Drogas (uma parceria da Fiocruz com o Ministério da Saúde e da Justiça), Pollyanna Medeiros, que identifica, entre outras questões, a necessidade ampla de diálogo entre a família e os jovens.
“O uso de álcool acompanha a história da humanidade. Além disso, é uma questão complexa que é influencia diversos aspectos da vida, perpassando por questões individuais, sociais e ambientais” diz.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (Pensei, 2012), o percentual de jovens que ingerem bebidas alcoólicas cresceu nos últimos anos, o que aumenta o risco de boa parte desta juventude desenvolver alcoolismo. Esta equação se repete em praticamente todo o mundo, inclusive no Brasil. Para Pollyanna, o álcool é a substância psicoativa de uso e abuso mais disseminada no Brasil e no mundo. Ela aponta que não existe um nível de consumo de álcool seguro que evite acidentes de automóvel, prática de sexo sem proteção, diminuição do desempenho escolar, gravidez indesejada e outros fatores de risco.
A especialista alerta que, apesar de a venda e consumo de álcool para menores de 18 anos ser proibida por lei no Brasil, os adolescentes têm fácil acesso para compra-lo em lugares com pouca fiscalização. “O uso e consumo excessivo de bebida alcoólica representam importantes desafios para a sociedade como um todo. Estudos apontam o aumento da probabilidade de continuidade do uso e riscos futuros. Neste sentido, alguns fatores de risco podem estar associados ao uso precoce”.
Os investimentos no campo da prevenção por parte do Estado é um fator relevante no que diz respeito ao comportamento de risco desses adolescentes que podem levá-los a outras drogas. “Observa-se mudança no padrão de consumo do ponto de vista epidemiológico relacionado ao uso de álcool, crack e outras drogas em crianças, adolescentes e jovens. Isso aponta a necessidade de maiores investimentos públicos intersetoriais para intensificar, ampliar e diversificar as ações orientadas para a prevenção, a promoção da saúde, o tratamento e a redução dos riscos e danos associados ao consumo prejudicial de sustâncias psicoativas”, diz Pollyanna.
É importante ressaltar os diversos fatores que levam os jovens ao consumo de bebidas alcoólicas, como a relação com a família, a escola e o convívio social. Mesmo com a venda proibida, não se pode negar que há uso e abuso de álcool entre esse segmento. Cabe ao Estado garantir a segurança e prevenção desses adolescentes ao acesso livre e sem responsabilidade, o que muitas vezes pode causar danos permanentes na fase adulta.
Quem bebe mais?
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar 2012, o percentual de alunos que já consumiram álcool subiu de 50,3% para 55,5% em três anos e as meninas estão mais expostas. Segundo Pollyanna, essa relação entre meninos e meninas não é segura se confrontada com outras literaturas. “O Health Behavior in School Aged Children (HBSC), conduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), encontrou prevalência de 17% no sexo feminino e de 25% no sexo masculino, o que ocorreu na maioria dos 40 países pesquisados. Já em estudo transversal em Pelotas, os autores encontram resultados semelhantes: 24,2% em mulheres e 21,7% entre homens, o que pode ser compreendido como algo associado à adolescência e maturidade mais rápida entre as meninas. Entretanto, com o passar dos anos, os meninos tendem a superar este tipo de consumo, e, em geral, adultos jovens do sexo masculino tendem a beber mais”, revela.
E você, o que tem feito pra se distrair e se divertir? Já deu pra sacar que beber não é nada legal e pode trazer uma série de problemas. Compartilhe a sua experiência com a gente!
* Substâncias químicas que agem principalmente no sistema nervoso central provocando alterações na função cerebral e afetam diretamente a percepção de humor, o comportamento e a consciência.
Reportagem Equipe Radcal